IN MEMORIAM

MARIA DA CONCEIÇÃO GANDRA CARDOSO LOPES (1932-2015)

Maria da conceição lopes

Foi com pesar que soubemos, pelo nosso amigo Leonardo De Sá, do falecimento, no passado dia 21 do corrente, de uma das filhas de António Cardoso Lopes Jr. (Tiotónio), nascida em 29 de Fevereiro de 1932.

Maria da Conceição era presença assídua, desde há vários anos, nos convívios anuais comemorativos do aniversário d’O Mosquito, a mítica revista infanto-juvenil fundada em 14 de Janeiro de 1936 por Cardoso Lopes e Raul Correia, e que teve vida para além do fim.

Tio tónioNo início dos anos 50, Tiotónio emigrou para o Brasil, onde permaneceu até ao fim da sua vida, trabalhando no ramo que melhor conhecia: o das indústrias gráficas — e voltando as costas para sempre a Portugal e ao jornalismo juvenil de que foi um dos mais reputados pioneiros.

Sobre os lances da sua vida pessoal e da sua extensa carreira profissional e artística — dedicada não somente a O Mosquito como a outras revistas de referência no panorama da BD portuguesa do século XX —, existe um livro profusamente ilustrado, da autoria de Leonardo De Sá, com fotos de família e documentos raros e inéditos: Tiotónio – Uma Vida aos Quadradinhos, publicado em 2008 pela editora Bonecos Rebeldes, na colecção nonArte. Uma obra fundamental, rematada por uma exaustiva bibliografia da vasta produção de António Cardoso Lopes Jr.

À família enlutada de Maria da Conceição Gandra Cardoso Lopes — e em particular à sua irmã Maria José, que sempre a acompanhava nas deslocações aos convívios d’O Mosquito — apresentamos as nossas sentidas condolências.

JAMES BOND – UMA LONGA CARREIRA NA BD

Sempre atento, no seu magnífico blogue Largo dos Correios, às notícias que circulam noutros meios de comunicação, algumas de especial interesse sobre temas que vão desde a cultura e a política até às artes de entretenimento como a Banda Desenhada, o Professor António Martinó de Azevedo Coutinho comentou recentemente um artigo vindo a público no suplemento ipsilon do jornal de referência Público (passe o pleonasmo), em que se anunciava o regresso de um dos mais populares heróis da literatura de espionagem e do cinema de acção, agora no domínio da banda desenhada (podem ver o seu post em: https://largodoscorreios.wordpress.com/2015/07/20/o-agente-007-chegou-aos-quadradinhos-ha-mais-de-cinquenta-anos-e-outras-memorias-anexas/).

James Bond (Live and let die)James Bond (Goldfinger)

Ian FlemingA notícia, ambígua quanto baste, dava a entender que era a primeira vez que James Bond — pois é dele que se trata! — atraía a atenção dos editores de comic books, o que está muito James Bond (John McLusky)longe da verdade… Embora seja mais conhecida, sobretudo pelos leitores europeus, a versão em tiras diárias publicada no jornal londrino Daily Express, entre 7 de Julho de 1958 e 22 de Janeiro de 1977, com desenhos de John McLusky e Yaroslav Horak (prosseguindo noutros jornais até 1983), James Bond, a personagem criada por Ian Fleming na novela Casino Royale (1953), também já apareceu em comic books e graphic novels, uma delas ilustrada pelo artista norte-americano Mike Grell, autor, entre outras, da série de fantasia épica Warlord (lembram-se dela no Mundo de Aventuras?). Grell ilustrou dois episódios para a Eclipse Comics, em 1989: Licence to Kill e Permission to Die, este último baseado numa história original, em três partes, cujas capas lembram imagens dos filmes.

James Bond (Mike Grell - 3)

James Bond (Dr. No)A DC e a Marvel também merecem créditos por terem publicado adaptações de alguns dos títulos mais memoráveis da saga cinematográfica estreada em 1962, começando pelo mítico Doctor No, a que se seguiram For Your Eyes Only (1981) e Octopussy (1983). Mas não foram as únicas editoras americanas a apostar em 007, que passou também pela Dark Horse e pela Topps, entre 1992 e 1995, com histórias originais e arte mais moderna de notórios desenhadores como Paul Gulacy, John Watkiss, John M. Burns, Russ Heath, David Lloyd e outros.

James Bond (Takao Saito)No império dos mangas, em meados dos anos 60, foi o artista Takao Saito que deu nova vida gráfica a algumas novelas de Ian Fleming. Quanto às revistas europeias, registe-se a presença maciça de 007 nalguns comics escandinavos, de produção própria, que duraram de 1982 a 1996, com a marca da Semic, alguns baseados em filmes como A View to a Kill (1985) e The Living Daylights (1987). Uma editora chilena, entre 1968 e 1970, também produziu histórias inéditas de James Bond, publicadas simultaneamente em Espanha.

James Bond (edição espanhola)

James Bond - Ciclone

Chegou mesmo a haver uma réplica feminina do super- -espião, curiosa variante das bond girls, que ainda deve perdurar na memória de alguns bedéfilos portugueses, pois apareceu por cá em revistas de pequeno formato  da A.P.R., como o Condor e o Ciclone (assunto para um futuro post). Estamos a referir-nos à intrépida Jane Bond, figura saída das mãos do excelente desenhador inglês Michael Hubard. E a fértil imaginação de artistas e escritores não ficou por aí, criando outras metamorfoses e chegando mesmo a arquitectar episódios da juventude de James Bond, com destaque para os que foram escritos por Charlie Higson e ilustrados por Kev Walker na inovadora série Silverfin.

James Bond (Silverfin)É fácil, por tudo isto, chegar à conclusão de que a novidade anunciada para o próximo mês de Novembro nada tem a ver com uma estreia no mundo dos comic books — como o título do citado artigo do Público parece sugerir —, mas com um renascimento, se assim lhe quisermos chamar, pela mão do desenhador Jason Masters e do argumentista Warren Ellis, sob a égide da editora Dynamite Entertainment.

Não hesitamos em recomendar a todos os nossos amigos que leiam na íntegra o excelente post do Largo dos Correios, em que o Professor António Martinó faz crítica construtiva, passando em revista alguns factos importantes (e curiosos) dos primeiros passos de James Bond nos quadradinhos. Um herói que foi criado pelo escritor e ex-espião Ian Fleming e não pela “máquina de sonhos” do cinema, embora esta muito tenha contribuído para a sua icónica popularidade, com a acção trepidante e toda a parafernália de efeitos especiais que se tornaram uma imagem de marca (e de êxito garantido) dos filmes do dinâmico agente secreto 007, ao serviço de Sua Majestade.

Bond em movimento

 

 

EXPOSIÇÃO “VIRIATO NA BANDA DESENHADA”

Viriato garcês

“Viriato na Banda Desenhada” é o nome da exposição que foi inaugurada ontem, dia 16 de Julho, às 19:30, no espaço Inovinter, na cidade de Moura. A mostra é uma co-produção da Câmara Municipal de Moura e do Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu (Gicav), com colaboração da Câmara Municipal de Viseu, Junta de Freguesia de Viseu, Instituto Português do Desporto e Juventude e Inovinter — polo de Moura.

Trata-se de uma exposição composta por 15 quadros que incluem todas as adaptações em BD sobre a figura de Viriato. Estão 13 desenhadores representados nesta exposição, nomeadamente 11 portugueses: Artur Correia, José Garcês (autor do cartaz), Fernando Bento, Victor Mesquita, Crisóstomo Alberto, José Ruy, José Salomão, Eugénio Silva, Baptista Mendes, João Amaral, Pedro Castro — e dois espanhóis: Chuty e Manuel Gago.

A exposição “Viriato na Banda Desenhada” pode ser visitada de 16 de Julho a 2 de Agosto, nos seguintes horários: sexta-feira, 17, das 17:30 às 20:00; durante o fim-de-semana, 18 e 19, das 10:00 às 13:00 e das 18:30 às 22:30. Nos restantes dias, das 17:30 às 20:00.

NO ANIVERSÁRIO DE ROUSSADO PINTO (14/7/1926)

Ross Pinto - eu, ross pynn

Nota: A capa com que abrimos este post é de um livro quase biográfico que Frank Gold, pseudónimo de Luís Campos (outro escritor policial português), dedicou a Roussado Pinto, metendo-se na pele de um dos seus célebres heterónimos, para o encarnar como “autor, personagem e mito”, e fingindo ser o herói da sua própria história.

Kansas nº 9 (Ibis)Roussado Pinto nasceu em 14 de Julho de 1926. Se fosse ainda vivo, estaria hoje a celebrar o seu 89º aniversário. Os homens passam e as obras ficam. Por isso, cabe-nos a nós, seus leitores, admiradores e amigos, evocar essa efeméride, honrando a sua memória e o seu nome, através de uma das realidades mais marcantes da sua existência: a obra incomensurável que nos legou, como escritor, jornalista e editor (dando primazia, nesta função, às revistas para os mais jovens e à banda desenhada).

Honrar o seu nome significa inevitavelmente recordar alguns dos pseudónimos que o celebrizaram, como os de Edgar Caygill e Ross Pynn. Usou-os em muitas obras, de maior ou menor importância e simbolismo na sua carreira, não porque quisesse passar, à força, por um escritor estrangeiro, mas porque sabia, com a sua profunda intuição literária, que esses nomes possuíam uma carga onírica que não se desvaneceria com o tempo, dando-lhe assim uma espécie de passaporte para a imortalidade.Ross Pynn - 1, 2, 3

Geralmente, na literatura policial (mas não só), os pseudónimos cristalizam-se como nomes reais, definitivos, fazendo esquecer os de baptismo. É assim também no cinema e noutras artes onde florescem a imaginação, o espírito, o onirismo e a fantasia. Actores e artistas perduram e mitificam-se na pele das personagens que criaram e dos nomes que adoptaram… às vezes, como no cinema, por imposição alheia.

Quanto a Roussado Pinto, sabemos que esse fenómeno de transfiguração não “matou” a identidade do criador — antes pelo contrário, tornou-a indissociável dos seus outros nomes, fundindo-os num mesmo corpus literário, que nenhum dos seus leitores desconhece. A fama e a forte personalidade do autor operaram automaticamente (e voluntariamente) essa simbiose. Mas nem todos os seus heterónimos tiveram vida longa.

Homenageamos hoje, na data do seu aniversário (como já fizemos noutras ocasiões), a memória deste lendário e infatigável novelista popular — autêntico trabalhador da “oficina do imaginário”, que dispersou humildemente a sua veia literária por uma enorme variedade de Ross Pinto - Vasco duro 345géneros —, dando a conhecer um artigo biográfico de Raul Ribeiro, extraído de uma publicação quase esquecida: o XYZ Magazine, edição do saudoso Sete de Espadas, outro grande nome da literatura (ou melhor) da problemística policiária portuguesa.

Apresentamos também algumas capas das inúmeras obras que Roussado Pinto escreveu com os seus dois pseudónimos mais famosos e com o seu próprio nome… por vezes, num registo neo-realista, bem diferente daquele a que nos habituou, como autor de romances e antologias policiais ou de novelas de aventuras. Sem esquecer que foi também argumentista de histórias aos quadradinhos e que criou e dirigiu alguns dos títulos mais emblemáticos da BD portuguesa, como O Pluto, Titã, Flecha, ValenteZakarellaGrilo e Jornal do Cuto.

No jornalismo, a sua coroa de glória foi, sem dúvida, o Jornal do Incrível, cujos destinos dirigiu com mão de mestre até ao dia em que o coração, mais uma vez, lhe falhou. E sem esperança de retorno… apesar de ter apenas 58 anos. Partiu o homem, mas ficou a lenda que há muito começara a tomar forma. E que ainda hoje povoa o imaginário dos que leram as obras de um tal Ross Pynn — personagem que, na realidade, nunca existiu!

Ross Pinto - Artigo 1 e 2Ross Pinto - artigo 3344

ALMOÇO DE ANIVERSÁRIO DO CPBD

logotipo CPBDConforme antecipadamente informámos, o Clube Português de Banda Desenhada (CPBD) festejou mais um aniversário, com um almoço tradicional realizado no passado sábado, dia 4 de Julho, em que estiveram presentes mais de trinta sócios e simpatizantes, reunidos em ambiente de franca camaradagem numa sala privativa do acolhedor Restaurante Moisés, sito na Avenida Duque d’Ávila nº 123, em Lisboa.

Este ano registou-se também a participação de algumas “caras novas”, entre as quais a de um sobrinho de Roussado Pinto (nome mítico da BD portuguesa, que nunca foi sócio do CPBD, mas sempre o apoiou, desde a primeira hora) e de um dos filhos de José Manuel Sobral, sócio fundador e ex-membro directivo do Clube, recentemente falecido no Brasil, onde residia há muitos anos. Também nos apraz assinalar a presença do Professor António Martinó, ligado ao CPBD desde longa data, mas afastado fisicamente nos últimos anos, por motivos pessoais e profissionais — que dirige, como todos sabem, o excelente blogue Largo dos Correios —, e de Hernâni Portovedo, membro do jovem Clube Tex Portugal (criado há menos de dois anos), que veio, pela primeira vez, juntar-se à comunidade do CPBD.

Prestes a iniciar mais uma etapa da sua longa existência — para o ano celebrar-se-á, com a devida “pompa”, o 40º aniversário, já em novas e mais funcionais instalações —, o Clube Português de Banda Desenhada conta já com um número apreciável de novos sócios, que acreditam no seu futuro e se dispõem a apoiá-lo em todas as iniciativas que os seus dirigentes se propuserem levar a cabo.

Sem esquecer a publicação de um renovado Boletim, o fanzine mais antigo que existe em Portugal (e seguramente um dos mais antigos de toda a Europa), cujo mais recente número acaba de ser distribuído, com a terceira e penúl- tima parte de um exaustivo e brilhante estudo do consócio Américo Coelho sobre a figura do famoso detective inglês Sexton Blake, émulo e rival de Sherlock Holmes, cuja popularidade em Portugal atingiu o auge nos anos 50 e 60 do século passado, graças ao Cavaleiro Andante e a outras revistas de banda desenhada.

A reportagem fotográfica que seguidamente apresentamos deve-se, como é habitual, ao experiente “repórter de serviço” Dâmaso Afonso, a quem agradecemos mais esta prova de amizade e de gentil colaboração com o nosso blogue.

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NO ANIVERSÁRIO DO JORNAL DO CUTO (1971-78)

Jornal do Cuto 1 300 - 7

Cumpre-se hoje mais um aniversário do Jornal do Cuto, lançado em 7 de Julho de 1971 pela Portugal Press, editora fundada por Roussado Pinto (1926-1985), cuja actividade profissional na área Roussado Pinto foto Ada Banda desenhada já vinha de longe, desde títulos como O Pluto, Titã, Flecha e Valente, criados nos anos 40 e 50.

A essas efémeras tentativas de fazer concorrência a outras revistas juvenis solidamente implantadas no nosso meio editorial, como O Mosquito, o Diabrete, o Cavaleiro Andante e o Mundo de Aventuras, seguiu-se, duas décadas depois, a sua primeira empresa apoiada em bases financeiras mais firmes e o primeiro dos seus títulos que iria alcançar um satisfatório êxito comercial, aliado a uma longevidade que só foi abruptamente interrompida por motivos de saúde do seu director.

Jornal do Cuto 2 300 - 7Roussado Pinto não interrompeu aí a sua carreira, continuando a dirigir os destinos da Portugal Press durante um novo período, que ficou assinalado por um dos maiores êxitos da imprensa portuguesa dessa época: o Jornal do Incrível.

Mas a sua grande paixão, como ele próprio tantas vezes confessou, era a Banda Desenhada, à qual deu o melhor de si próprio como propagandista e pioneiro de uma nova forma de arte popular que conhecia como poucos. Aliás, apesar de todas as contingências e adversidades do destino, nunca quis interromper a sua luta, sonhando ainda, pouco tempo antes de sofrer outro enfarte, em Março de 1985, reunir condições para ressuscitar o Jornal do Cuto. Infelizmente, já era tarde…

Nos primeiros números desta excelente revista, que durou até ao nº 174, publicado em 1/2/1978, destaca-se o equilíbrio entre autores clássicos oriundos d’O Mosquito — como Eduardo Teixeira Coelho (A Morte do Lidador, A Lei da Selva), Raul Correia (Cantinho de um Velho, O Navio Negro), Percy Cocking (Serafim e Malacueco) e Jesús Blasco, criador do mítico herói que Roussado Pinto escolheu para nome do seu novo jornal — e outros, sendo de referir entre estes a presença de Bud Sagendorf (Popeye), Mac Raboy (Flash Gordon), Alberto Salinas (Moira, a Escrava de Roma) e Russ Manning (Tarzan), além de José Batista e Carlos Alberto (este último ilustrador, com o pseudónimo de M. Gustavo, da rubrica Quadros da História de Portugal, publicada em separata).

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Outros vieram depois, também coroados por justa fama — como Alex Raymond, Mel Graff, Roy Crane, Hal Foster, Lee Falk, Phil Davis, José Luís Salinas, Walter Booth, Reg Perrott, Roy Wilson, Franco Caprioli, Emilio Freixas, Frank Bellamy, Sergio Toppi, Vítor Péon, Orlando Marques — e as homenagens ao Mosquito continuaram a ser uma das tónicas dominantes do projecto mais acalentado por Roussado Pinto, que se desdobrava em múltiplas tarefas, escrevendo, coordenando, traduzindo e até maquetizando a revista.

Jornal do Cuto 3 300 - 7Lembro-me de só ter visto o Jornal do Cuto, pela primeira vez, seis meses depois do seu lançamento, porque nessa altura vivia em Angola, aonde as revistas de BD (e outras) só chegavam por via marítima. Não porque as viagens através do Atlântico demorassem tanto tempo, como é lógico, mas porque era assim que funcionavam os circuitos comerciais e as leis da distribuição entre Angola e a metrópole. Por incrível que pareça!…

Seja como for, ainda recordo com nitidez esse primeiro encontro e a extraordinária emoção que senti ao ver numa loja do Lobito, cidade do sul de Angola onde estava de passagem, uma revista cuja capa me despertou imediatamente as memórias de Cuto, o maior herói d’O Mosquito, um dos gloriosos ídolos da minha geração.

Jornal do Cuto 4 - 300 7 2A partir desse dia, não fui capaz de esperar tanto tempo para ler o Jornal do Cuto e tornei-me assinante da revista por via aérea, tal como já era do Tintin e do Diário de Notícias (que publicava aos sábados um interessante suplemento intitulado Nau Catrineta, onde podíamos matar as saudades do Zorro e do Cavaleiro Andante).

Quanto ao Mundo de Aventuras, confesso que nessa época não estava no topo das minhas preferências (por causa do seu aspecto modesto, num formato muito reduzido), embora continuasse a acompa- nhar as aventuras de heróis como Mandrake, Rip Kirby, Garra de Aço, Matt Dillon, Matt Marriott e outros, sem imaginar, nem em sonhos, que viria a tornar-me seu colaborador (e depois coordenador), por ironia do destino, quando regressei à metrópole, poucos meses antes do 25 de Abril de 1974. E foi então que tive o privilégio de conhecer pessoalmente Roussado Pinto, com quem já trocava correspondência desde os primeiros números do Jornal do Cuto.

Jornal do Cuto 5 300 7À sua afabilidade e simpatia, à sua generosa amizade, ao seu caloroso e contagiante entusiasmo, ao seu epicurista gosto pela vida, que nada parecia afectar — nem mesmo os avisos dos médicos, que o admoestavam por trabalhar e comer demais —, à sua sabedoria sempre pronta a dar uma ajuda aos mais novos e inexperientes, devo muitos momentos de inesquecível convívio e camaradagem, e alguns dos mais preciosos conselhos que obtive na minha actividade profissional ligada à BD.

Por isso, ao recordar esta efeméride do Jornal do Cuto, quero também prestar, mais uma vez, homenagem ao seu criador, um ícone da Banda Desenhada portuguesa (e não só), cuja vasta obra permanece viva na memória nostálgica de várias gerações, com quem partilhou muitos êxitos e desaires, assim como muitos episódios de trinta anos de laboriosa carreira, ao serviço de uma causa que nunca renegou.

Nem mesmo quando o seu maior projecto (e triunfo) jornalístico, o Jornal do Incrível, que o absorveu por completo, durante os últimos anos de vida, se interpôs entre o amor pela BD e a dedicação a uma editora que estivera à beira da falência… mas que ele deixou, ao partir de súbito para outra grande aventura, com um saldo largamente positivo.

Obrigado por tudo, Roussado Pinto!

PARADA DA PARÓDIA – 11

NAS VÉSPERAS DE UM REFERENDO “EXPLOSIVO”…

Inimigo Público - Grécia

Ou as troikas e a União Europeia à beira de um “ataque suicida”!

Com uma larga e merecida vénia aos colaboradores do Inimigo Público — “irreverente” suplemento satírico do jornal Público, que sai às sextas-feiras —, onde este cartoon foi dado à estampa na edição de 26 de Junho de 2015.