OS REIS DO RISO – 6

ESTROMPA – O HUMOR À FLOR DA PELE

ESTROMPA photo 920Este mês ficou assinalado pelo brusco desaparecimento de outra notável figura da BD portuguesa, um dos mais singulares humoristas da sua geração, mas de carreira tão discreta como a sua própria personalidade, que — apesar da formação que obteve na Escola António Arroio — procurou seguir novos rumos, fazendo a ponte entre um certo classicismo (de inspiração tradicional) e um conceito mais vanguardista, fortemente marcado pelo estilo underground que caracterizou indelevelmente o seu traço.

Tive o prazer de trabalhar com Estrompa, em perfeita sintonia, nalguns projectos de que guardo boa memória, como O Mosquito (5ª série), da Editorial Futura (1984-86) — onde ele animou a rubrica Clássicos & Desintegrados —, as Selecções BD (2ª série), da Meribérica/Liber (1998-2001), e o livro de homenagem a Vasco Granja, “Uma Vida… 1000 Imagens”, editado pela Asa em 2003. Durante uma relação de amizade encetada muitos anos antes, sempre admirei o seu profissionalismo, o seu sentido de humor, a sua franqueza, a sua honestidade, o seu respeito pelo próximo, a sua inata simplicidade.

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Esta foi também a faceta mais marcante do seu carácter, distinguindo-o de outros autores do seu tempo que tiveram carreira pública mais notória, não porque o excedessem em mérito e brio profissional, mas porque quiseram estar na primeira linha, enquanto que ele sempre se remeteu a um obscuro e modesto recolhimento, embora atravessado por Shock fanzine 28 (Estrompa)alguns flashes de brilhante inspiração, como denota o seu trabalho gráfico nalguns fanzines (Shock, Banda, CafénoPark), e sobretudo a mais emblemática das suas criações: uma série policial recheada de humor negro, com as confidências, bem apimentadas de sexo, anarquia e violência, de um satírico (e sátiro) anti-herói conhecido pela alcunha de Tornado.

Nas Selecções BD, onde esta série fez uma breve reaparição (nº 9, Julho 1999), enquadrada por um exce- lente estudo de Geraldes Lino, Estrompa realizou também alguns trabalhos dignos de nota (mas a cores, registo pouco comum no seu currículo), cujo mote obedecia a uma regra simples: a apresentação do sumário em jeito de cartoon, numa dupla tira, com tema livre. Tarefa em que ele se sentiu como peixe na água, rivalizando com outros autores que também se encarregaram desse espaço criativo e de síntese gráfica, muito apreciado pelos leitores da revista.

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Como preito à sua memória e ao seu talento artístico, num género em que se cotou como um dos melhores humoristas da sua geração, tanto pelo estilo inconfundível como pela prosa vernácula, sem “meias tintas” — que nascia espontaneamente do seu espírito anti-conformista, despido de preconceitos moralistas, do seu olhar singelo e, ao mesmo tempo, límpido e maduro, capaz de transformar a realidade urbana numa crónica brejeira de costumes, matizada de comédia policial —, aqui ficam também dois sumários a cores que a Selecções BD apresentou nos nºs 28 e 29 (2001), e o episódio de Tornado 1989 (título completo da série) publicado no nº 9 da mesma revista.

TORNADO 1 e 2TORNADO 3 e 4TORNADO 5 916

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