Como já assinalámos, esteve patente na Biblioteca Nacional, encerrando hoje, uma mostra comemorativa do lançamento, há 60 anos, de uma das mais apreciadas colecções de cromos que circularam no nosso país — obra de um ilustrador e pintor de reais méritos, Carlos Alberto Santos, então ainda no limiar da juventude e de uma fértil carreira artística.
Trata-se da História de Portugal, a primeira colecção temática deste género, editada pela Agência Portuguesa de Revistas (APR) em Outubro de 1953, depois de outros êxitos que abriram caminho a uma nova espécie de cromos, que se vendiam separadamente em “envelopes-surpresa”, por 40 centavos, e não, como dantes, nas mercearias e confeitarias, a embrulhar caramelos e rebuçados.
Carlos Alberto foi um dos principais artistas portugueses a distinguir-se nesta popular modalidade, com um apurado sentido gráfico e estético na realização das pequenas estampas, primeiro a preto e branco — como na História de Portugal, cuja colorização era dada nas provas em “azul” — e mais tarde em cores directas, com guache, num estilo mais próximo dos seus trabalhos pictóricos.
Apesar de ter feito banda desenhada para algumas revistas da APR, como o Mundo de Aventuras, foi nas colecções de cromos, destinadas a um público mais heterogéneo, que averbou os seus maiores êxitos. Trajos Típicos de Todo o Mundo, História de Lisboa, Camões, Pedro Álvares Cabral, Romeu e Julieta, são exemplos paradigmáticos de trabalhos primorosos no campo didáctico e artístico.
Colecção formada inicialmente por 203 cromos, com textos de António Feio, a História de Portugal obteve um êxito retumbante, que se saldou por contínuas reedições até à 17ª, em 1973, já depois de Carlos Alberto ter abandonado a APR. Um êxito comercial e artístico absoluto que, em termos lucrativos, pouco rendeu, porém, ao seu criador gráfico.
Posteriormente, à figura do general Craveiro Lopes, no cromo nº 203, vieram juntar-se as do almirante Américo Tomás, novo presidente da República, e do professor Marcelo Caetano, presidente do Conselho, sendo este, portanto, o cromo que encerrou a caderneta.
Para a 10ª edição, de 1964, com um formato diferente, quase quadrangular (22 x 21,5 cms), Carlos Alberto realizou uma nova capa, cuja imagem se popularizou também entre os coleccionadores, mantendo-se esse formato até à última edição. Devido ao novo modelo, que inaugurou com pompa a “Colecção Ecléctica”, cada página tinha lugar apenas para quatro estampas.
O fim da colecção coincidiu com o fim do regime, derrubado pela “revolução dos cravos”, e com uma nova era, em que o planeamento editorial da APR sofreu profundas alterações, perdendo definitivamente o seu cariz tradicionalista, familiar e pedagógico, de que a História de Portugal e outras colecções de cromos eram um dos símbolos mais radiosos.
Ainda hoje, porém, esta magnífica colecção possui uma aura de mítica beleza e de fascínio para várias gerações, que foram atraídas pelo apelo da História e pela arte insuperável das imagens de Carlos Alberto, largamente publicitadas no Mundo de Aventuras e noutras publicações da APR (mas sem uma referência explícita ao seu autor).
Como afirmou João Manuel Mimoso, um dos organizadores da mostra da Biblioteca Nacional (o outro foi Leonardo De Sá), “a História de Portugal tornou-se a colecção de maior sucesso no país, estabelecendo um padrão de qualidade raramente igualado no campo do cromo comercial. (…) É instrutivo verificar como a subtileza dos tons e a riqueza de pormenores se perdem nas impressões baratas e como, apesar disso, a paixão pela qualidade, que no artista é um reflexo da sua natureza, o levou a continuar a desenhar e pintar com um detalhe que os cromos, tal como eram finalmente publicados, não justificavam” [in catálogo da exposição de homenagem a C. Alberto, realizada na Casa Roque Gameiro – Amadora BD 2005].
No site da nossa maior instituição cultural, guardiã de um valioso património literário, científico e artístico com séculos de história, está disponível um catálogo dessa excelente mostra, em formato ebook, que pode ser descarregado mediante o pagamento de uma importância simbólica.
Ver informações em http://livrariaonline.bnportugal.pt/Issue.aspx?i=2188
Excelente página informativa sobre a mítica História de Portugal em cromos.
Tenho a 17.ª Edição de Outubro de 1973, mas, infelizmente, faltam-me alguns cromos para ter esta publicação completa, e nem imagino sequer onde possa conseguir recuperar as imagens em falta!
Agradeço antecipadamente qualquer informação útil.
Muito obrigado pelo seu comentário. Infelizmente não lhe podemos dar informações concretas sobre a melhor forma de completar a sua caderneta, mas se entrar em contacto com alfarrabistas de Lisboa e do Porto poderá, talvez, com mais facilidade realizar esse desejo. Há anos, junto da Estação do Rossio, em Lisboa, havia um vendedor que tinha muitas estampas avulsas de diversas colecções e conseguia até completar listas de faltas. Não sei se ainda pára no mesmo sítio…
O meu pai tinha esta caderneta, mas como já estava em muito mau estado, guardei os cromos e deitei a caderneta ao lixo há uns anos. Como sou designer gráfico, resolvi refazer a caderneta para lá colar os cromos e oferecer ao meu pai. Por isso, queria pedir, se possível, que me enviasse as digitalizações de todas as páginas para eu poder retirar os desenhos a preto e branco que se encontram no centro das páginas, de modo a inseri-los na caderneta que estou a criar. Desde já o meu obrigado.